Floriste Lisboa de madrugada
travando gestos de vingança
de mão em mão passada
alardeaste sinal de mudança
Despontaste em arma silenciada
incutindo na confusão segurança
foste a flor mais celebrada
devolveste ao povo a esperança
De pregar a pátria em vitória
de cantar liberdade com paixão
de fazer da tortura memória
Cravo posto sobre o coração
és a flor da nossa história
és o cravo da revolução!
Quis vingar a minha dor
com prazo marcado e tudo
fiz promessas ao tempo
de lágrima tombada
Mas o tempo empurra tempo diante de si
inútil insistir com a memória...
Mas espero ter vingado a minha dor
porque hoje sei que naquela altura
tudo era possível
Quando o dia era maior que as franjas do sol
e o baloiço ganhava ao compasso do relógio
tanto me folgava a vida,
à volta da brincadeira, esquecida
nesse tempo, tudo era possível!
Ela aparece nua
com um simples véu
da mais fina e subtil transparência,
ao virar da esquina,
na areia da praia ou do deserto
abraçada ao céu e à terra
porque ela não sabe da sua existência
Ele levanta-lhe pontas do véu
com sopros de ternura
que não violam a sua liberdade
sussurra baixinho ao mundo a sua paixão
Ele, o poeta, sabe por instinto
que o seu poder
está só nesse segredo:
Ele sabe que a poesia
não sabe da sua existência.